sábado, janeiro 15, 2005

Será que dá pra falar inglês ou tá difícil?

Tô comendo brigadeiro! Com colher direto na panela. Copo de água do lado. Pausa para suspiros. Mas tive de comprar leite condensado numa lojinha brasileira porque com os daqui não dá certo.

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Ontem, tive um dia bem brasileiro. Depois de publicar o site do portuga, fui comer picanha num restaurante brasileiro com uma jornalista brasileira e seu namorado brasileiro. Arroz bem temperado, vinagrete, farofa, feijão, batata frita e um bife gigante. O problema foi levantar da mesa. Ô comidinha pesada.

Andei uns 20 minutos até um shopping que só tem brasileiros. Nem preciso dizer que é preciso tomar cuidado redobrado na hora de comentar algo em português... Toda essa área é chamada de Popolândia pelo meu amigo Andrei. Se você sentar pra conversar, o papo com a maioria dos freqüentadores não irá muito além de futebol, como fazer mais dinheiro no Canadá e como formar uma banda de pagode. Ah, e sobre como ser VIP nas baladas latinas. Écat!

Se a Drica reclamava dos goianos em Atlanta, aqui, pelo visto, são os mineiros. Cruzei com alguns e TODOS eram de Ipatinga. O que Ipatinga tem? Ou melhor, o que Ipatinga não tem?

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Lendo o The Day Breaks um dia desses, vi que a Cássia comentava sobre sua profissão de tradutora (mas ela também é jornalista. E das boas). Comentava também que nunca tinha viajado a nenhum país de língua inglesa. Hoje posso dizer que você só aprende inglês no Exterior se se esforçar pra isso. Li o post e não pude deixar de pensar na impressão que tive ao chegar em Toronto: aqui (e em qualquer lugar do mundo lotado de brasileiros) o mais difícil é falar inglês.

O primeiro problema é a escola. Você cai de pára-quedas num outro país e encara dez novas culturas em menos de 30 minutos. Entre coreanos, japoneses e alemães, você acaba se sentindo mais a vontade com... brasileiros, lógico.

Depois, acaba arranjando emprego num lugar que fala português. Seus amigos adoram bater cartão em baladas latinas e você, que não quer passar a noite de sábado em casa, acaba acompanhando.

Mas nem sempre é assim - desde que você se policie. Logo no começo da minha viagem, tentei dar uma segurada no baticundum tropical senão só iria falar inglês na escola. Ao meu grupo de amigos brasileiros (Lilian, Alex e Renê), juntaram-se mexicanos (Abigail e Alejandro), um coreano (Tim) e uma francesa (Celine). Isso nos ajudou. E muito. Mesmo com a Lilian, por exemplo, carioquinha show de bola, eu tinha um acordo de não falar português todo o tempo. Até lembro de uma vez no metrô, as duas cansadíssimas, e ela dizendo: "Dã, minha cabeça tá doendo. Não quero mais pensar em inglês. Vamos falar em português vai".

Depois fui trabalhar num restaurante portuga e passava o tempo fazendo perguntas estúpidas para os clientes. "Se eu quero dizer isso em inglês, qual é o jeito certo?" Todo mundo devia me achar pentelha, mas eu estava aqui pra aprender, não?

Vai fazer seis meses que trabalho num restaurante grego. Poucos portugueses e quase nenhum brasileiro pintam por lá. Foi aí que a língua começou a ficar mais clara, clara, quase transparente. É aí, falando inglês pelo menos oito horas por dia, que a palavra "tradução" some da sua cabeça. Não é mais preciso pensar na sua língua, buscar palavras na outra e só depois verbalizar. Agora, é só clicar a teclinha SAP.

Por isso, se você estiver pensando em viajar pra cidades superdivulgadas, pense duas vezes se não é mais vantangem - e mais econômico - encontrar uma Ciça (ex-professora da Cássia) no Brasil.

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