quarta-feira, janeiro 19, 2005

Idade do "vai ou racha"

Não sei o que acontece, mas parece que muita gente ainda vive no século passado. Os anos passam, informações chegam e essa gente pára no tempo. Ou pior, dada as circunstâncias, eu diria que elas estão em marcha-ré.

Minha mãe chegou com o seguinte papo há mais ou menos um ano:

"Daniela, a Ângela está superpreocupada com a filha dela. A melhor amiga da menina vai se casar e a Ângela não quer nem contar pra garota porque tem medo de como ela irá reagir..."
"Por que, mãe? Ela tem medo de ‘perder’ a amiga ou algo assim?"
"Pior ainda. Disse que a filha não vai se conformar de ver a Juliana se casar antes dela!"

Outra passagem célebre da vida da mesma guria. Traída pelo primeiro namorado e comendo o pão que o diabo amassou com o atual (ela acha que está sendo traída de novo), eis que solta a seguinte frase: "Por que isso acontece comigo? Já é a segunda vez! Só falta ele não querer mais se casar. E eu sempre faço tudo certinho...".

A menina em questão tinha 25 anos na época. No alto da juventude e preocupada porque ainda não “tinha arrumado casório”, como diriam aquelas famílias antigas do interior. Agora me falem, que mundo é esse? Cadê o senhor de engenho na história? É claro que eu caí na gargalhada e minha mãe, séria, tentava me explicar que “na casa deles era assim mesmo”.

Meses depois, quando uma conhecida minha anunciou que estava noiva, pude constatar com meus próprios olhos, ou melhor, ouvidos, que uma das culpadas pela atormentada cabecinha desta menina aí em cima era a própria mãe. Além de colocar minhoca na cabeça da filha, veio com a estratégia pra cima de moi.

"Dani, você viu???? A Marcela está noiva! Nossa, sua amiga vai casarrrr!" (frase embalada por um sorrisinho)
"Juraaaaaaa, Ângela? Pois é... talvez isso até me inspire porque, se depender de mim, esse dia está bem longe" (frase embalada com uma careta de nojo)

Bom, nem preciso dizer que não houve mais diálogo a partir daí. Ela saiu quietinha, frustrada por não ter conseguido arrancar de mim aquele sentimento de inveja de uma garota desesperada em subir ao altar.

Eu juro, juro que não entendo essas coisas. Sei que entre os 20 e 30 anos o índice de casamentos é alto. Isso é visível. Chega a ser até palpável. Mas prefiro acreditar que é porque estamos mais maduros, mais estabilizados profissionalmente e que achamos um grande amor e, pum, bateu! Infelizmente, toda minha teoria cai por terra quando vejo histórias como essa aí de cima. Ou quando, navegando pelo Orkut, encontro a seguinte declaração: "Pois é, eu tô me acostumando a ser madrinha das minhas amigas. Sabe como é, estamos naquela idade que ou vai ou racha....". Vai ou racha?!

Isso me faz lembrar uma conversa, anos atrás, sobre o sinônimo de status no decorrer de nossas vidas. Aos cinco anos, você tinha status se conseguisse atravessar o trepa-trepa sem cair no chão durante a travessia. Aos 9, você teria status se fosse nadar na piscina funda enquanto todos os seus coleguinhas ficavam naquele tanque sem graça, raso e morno. Aos 12, status era sinônimo de beijo de língua. Depois de passar a adolescência ouvindo aquela amiga chata da sua mãe perguntar se você tem namorado, agora precisamos agüentar outra encheção: "e você? Já casou?". Status, agora, é ter aliança na mão esquerda. Ah, e morar com o namorado não vale, viu? É transgressão demais para tais padrões.

Acho que casamento, para algumas mentes brilhantes (olha a ironia aí, gente), é papelada com deadline. Chego até a ter a impressão de que já estou velha pra caracas, que não tenho mais perspectiva de vida e que só posso casar até os 30. Que preciso arranjar alguém rapidinho, assim, que nem açougue mesmo, porque já tô na zona de perigo. O problema é que, enquanto pra mim é só impressão, vejo gente levando essa teoria a ferro e fogo. Mais ferro, porque nenhum fogo sobrevive a namoros com deadline.

Eu nunca, nunca tive muita vontade de me casar no papel. Sabe aquela festa para mil convidados dos quais você não conhece nem a metade? Até os faria pelo meu pai. Única filha, sabe como é. Juntar os trapos sempre teve mais a ver com os meus planos. Dividir a pia, a cama e a toalha de rosto por um bom tempo antes de colocar nossas preciosas assinaturas em papéis burocráticos. Mas não me entendam mal. Não sou contra casamentos. Sou contra pessoas que se casam porque "está na hora de se casar". O problema é que o único fator determinante, nestes casos, é a idade. E só.

Tenho só uma amiga casada (falo das amigas mais próximas). Ainda estávamos na facu quando, de repente, veio a notícia de que a Carolzinha – a caçulinha da turma do colégio – estava indo pro altar. Fiquei abobada. Na época, até achei meio precoce (a gente ainda estava na faculdade, pô!), mas, pra quem conhece a Carolzinha, precocidade sempre foi seu apelido. Chorei que nem criança na cerimônia (e assumo que comecei a gostar mais da idéia depois disso).

Todas as outras continuam sem O anel. Algumas namoram, outras moram junto, outras estão noivas e outras ainda estão a procura de alguém que as faça subir pelas paredes.

Torço muito pela felicidade de todas – e pela minha também. Mas tenho a certeza de que prefiro mil vezes passar a vida solteira no papel do que casar por casar. Pompa, festa e tititi não são base para nenhum casamento. É preciso muito mais.

E é uma pena se, na cabecinha de alguns, mulheres e homens de 25 pra cima estão quase rachando. Ter status, pra mim, é estar junto por tesão, paixão, partilha e amor. Ou, então, ficar pra titia e ser uma solteirona feliz. Por que não?

4 comentários:

  1. Anônimo6:09 PM

    Interessante...também não entendo qual a nóia desse povo em casar desesperadamente. E aí, vamos pular no lago hoje??

    Andrei

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  2. Tá, tá.. Mas, como disse ontem, não tô a fim de ver o Rô com cueca vinho furada, tá?

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  3. Depois de casar (eu só moro junto, mas depois de cinco anos, as pessoas se conformam, acho) vem a nova encheção:

    – E aí? Pra quando é o beibe?

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  4. Pois é, Cássia. Parece-me que sempre temos de seguir uma cartilha. Ah, e se você disser que não quer ter filhos, aí é que vem aquela cara de desprezo que te faz sentir uma "sem-coração"...

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