terça-feira, maio 25, 2004

Salve África – uma janela para o mundo

Pela janela, vejo a manhã ensolarada em Luanda, apesar do cacimbo. É feriado. 25 de Maio, Dia de África. O sol logo cedo nesta época é fato raro. Deve ser uma homenagem aos africanos. Para nós, brasileiros, é dia de branco. Êpa. Taí uma expressão que não pega bem por aqui, ainda mais num dia como este. Quero dizer que é um dia de trabalho, como outro qualquer. E é aí que mora o problema. Envolvidos pela rotina, é fácil esquecer onde estamos. De casa para a redação, da redação para as ilhas (de edição), de volta pra redação e de volta pra casa… Pode ser qualquer lugar do mundo. É preciso estar atento. Olhar sempre pelas janelas. E abrir as janelas. Respirar o ar verdadeiro da cidade. Mesmo que não seja agradável à primeira narigada. É que ficamos facilmente “condicionados” pelo ar do ambiente fechado, sempre refrigerado. Na tela da tevê, a Globo Internacional mostra o Bom Dia Brasil, a Ana Maria Braga… Uma emissora portuguesa tem imagens do trânsito em Lisboa. A CNN tem o Bush a prometer mais tropas no Iraque. Nessas horas, nem mesmo o saboroso sotaque angolano chega à nossa “redoma”. É preciso estar atento, mais uma vez. Na tela do computador, a Folha de São Paulo mostra Lula na China. O petróleo bate recorde. Em outra janela, o Le Monde com o desabamento do aeroporto de Paris. É certo que tem ainda uma janela com as notícias de Angola. O tal mundo globalizado é um perigo. As janelas se abrem para qualquer parte do planeta. Mas é um mundo virtual. É preciso estar sempre atento. Fechar o Windows e abrir as janelas reais. No mundo real o tempo voa. Já é hora do almoço. Entro no carro, e o rádio toca Djavan. Mudo de estação, vem Madona. No CD, tem Manu Chao… Mais uma vez é o mundão invadindo meu mundinho. Mas as janelas, sempre elas, não mentem jamais. Está ali, em cada esquina, a realidade ensolarada de Luanda. As zungueiras(*) com suas bacias na cabeça, com seus peixes, suas bananas, seus abacaxis e suas sandálias havaianas. Êpa. Havaianas? Pois é. E com bandeirinha do Brasil. Êta mundão! Abro a janela e solto um grito (virtual):

Salve África!



(*) zungueiras são as vendedoras ambulantes que carregam suas mercadorias na cabeça. Elas estão por todos os cantos da cidade. Em todas as cidades do país.

Texto enviado por um grande amigo que mora (sobrevive) em Angola.

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