domingo, janeiro 30, 2011

A vida dos outros

Minha mãe, de tempos em tempos, conta uma história sobre quando eu estava no pré. Eu, japinha de cabelo liso, andava com uma amiguinha loira com cabelos encaracolados e olhos azuis. Segundo a dona Mitsue, minha frase recorrente era: "ai, queria ter o olho da Michele". E a da Michele era: "ai, queria ter o cabelo da Dani".

É natural termos referências, influências e tudo mais. Mas vejo que, a cada ano, desde o pré, a parte mais bacana de envelhecer é criar e se recriar do seu jeito. Mudar o rumo, fazer valer suas escolhas e até ter de brigar por elas (ou nem, pois às vezes dá uma preguiiiiiça e você se joga sozinho mesmo). E como deve ser chato não ser diferente de ninguém! Ou nem ter argumentos pra brigar com amigos. Porque discutir é bom. Ter ideias diferentes é bom. Ter amigos que não pensam como você é bom demais. Deve ser chato sempre se sentir num tribunal, no qual todas as suas escolhas devem ser elogiadas ou pelo menos aceitas por alguns.

Num longo papo com uma amiga, falamos muito da época de colégio quando ela descobriu que ser diferente era bem mais legal. E isso a gente vai evoluindo dia a dia. Dá pra perceber quem parou ali, no colégio, como se esta época fosse a única fase áurea desta vida. Dá pra sacar quem trouxe de lá as inseguranças e, hoje, acompanha uma ou duas pessoas como se estas tivessem a vida perfeita que você sempre quis ter também. Mas nada é perfeito. Nada é autêntico a não ser que venha de uma movimentação natural, de um gosto e preferência que realmente sejam seus. Temos MOMENTOS de mimetismo, o que é mais do que saudável; mas uma VIDA de mimetismo deve ser muito chata. Enquanto você segue, fuça e mapeia a vida alheia, aquela própria vida já está mil léguas à frente, pensando no próximo movimento, na próxima construção. E, aí, você é obrigado a criar falsas vidas. Mil devaneios pra conseguir ter assunto até em mesa de bar.

10 momentos de mimetismo pós 30:
1. A objetividade e imparcialidade do Luiz
2. A camaradagem e habilidade no tênis do meu irmão
3. O senso de maternidade da Maíra
4. O rímel da Lancôme e o timing de humor da Tereza
5. O talento para pesquisa da Camila
6. Os cílios postiços "naturais" da Paulinha
7. Os sapatos dourados e a explosão da Ag
8. A clarividência (não paranormal) da Sylvia
9. A evolução constante do meu pai
10. A leveza da minha mãe

Ter momentos de mimetismo é dividir, aprender, reconhecer. E crescer. Não queira a vida de ninguém. Senão nem a sua poderá ser resgatada depois.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deite no Divã e abra o bocão!